Crescendo por entre escombros de felicidade
(pegadas e recordações da sua própria)
e precipitando-se para a luz como, outrora, para a escuridão.
Por uma vez vai arriscar(-se). Vai tentar algo novo.
- Escolher a luz -
Exaspero expectante. Pausa. Respirar fundo. Conter a respiração.
Já!
Cega pela luz incandescente em que mergulhou, está afinal de novo na escuridão.
Na mesma escuridão de onde partiu.
Na mesma escuridão que, falhando o tiro no escuro, a criou, a reconfortou, nos seus momentos de angústia, nos seus momentos de dor, nos seus momentos…
Poética e cruel imbecilidade da ingratidão.
Bofeteia(-se?). Sempre no escuro. Nada a recear. Nenhum olhar alheio a temer. Apenas o seu próprio. O único olhar que a poderia fazer tremer.
E treme agora, reluzente no frio que emana, que passou a emanar, após tempos e tempos de quedas e regressos falhados. Tentativas. De voltar. A casa? À luz?
A si?
Qual o lado de si actualmente iluminado, pergunta-se.
Possuiria, de facto, alguma luz (interior)?
Talvez uma pequena luz de presença, que não se cansa jamais de lembrar a absurda existência. Teimosamente marcada pelo relógio ondulante que vagueia no escuro. À sua volta. Em todo lado.
Na sua mente.
Um relógio de luz negra, um tic-tac ecoado nos mais improváveis retalhos de si.
Lembra que o tempo não pára. Lembra que não parará.
A sua espera é eterna e eterna é também a sua ânsia de experimentar de novo a luz. A sua (?) antiga e recordada luz. Que dói. Que lateja. Só de a pensar.
Num momento mais agoniante, alguém.
Teria lá estado alguém?
Haveria mais alguém?
Sente-se exausta.
Por que não conseguirá parar de lutar, mesmo sabendo que nunca nada mudará? Que nunca terá a escolha que teve, a oportunidade que (des?)aproveitou de ser alguém?
Sente-se, contudo, paradoxalmente feliz.
(será felicidade ou apenas um alívio de segundos ao recarregar da pistola?)
Mas feliz? Feliz porquê? Não tem motivos. (Frustração)
Para lutar.
Para se sentir feliz.
Sobretudo por ter consciência de que por muito consciente que seja – e é – a inconsciência foi a sua opção, e terá de sofrer a felicidade que não escolheu. Que já não deseja.
Já não sabe se arrependida se satisfeita.
Está conformada com o inconformismo emergente que desbota em si. Vai continuar a lutar.
Por uma felicidade que sabe não desejar.
Por um sentimento que adivinha já sentir.
Por alguém que pensa não existir.
12.03.07
Fotografia: "Sombra" de OGC (2007)
Faço eu um comentário!
ResponderEliminarParabéns pelo que escreves. Fico à espera de ver mais coisas. No meu blog tens o meu mail: usa, se quiseres.
Muito bem!!!! o menino orlando anda inspirado...
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