Como as correntes da vida
Chocando – necessárias – entre si.

Eu
Comigo mesmo.

Sorrio do mais profundo do que sou(be um dia…)
E ela cai.
Arrefecendo e salgando-me a pele queimada pelos raios

(in)evitáveis da vida.
Procuro agarrá-la quando entra(mos) em queda livre, mas ela cai.
Irremediavelmente desamparada.

Cai.

Já não é minha, agora.
Pertence à treva que a treva que piso.
Comigo permanece apenas o motivo (tre)moroso da (nossa) queda incompreendida.
O sentimento afiado que me cortou em dois mas não consigo esquecer, nem hoje nem amanhã.
É, no fundo, tudo o que possuo, a recordação indelével da juventude ridícula que outrora senti.
Agora já nada sinto, e isso dói a cada segundo pela culpa do que não senti enquanto o pensava poder.

Agora… nada…
Agora já nada me faz vibrar, me faz sentir, me faz lembrar
Já nada me faz rir
Já nada me faz chorar…

Guardo, no entanto, e por agora, no meu mais recôndito refúgio, uma pequena gota jacente – hoje (e sempre) – em mim.
Aqui (e só aqui, só para mim), ela brilha, encanta, como que munida de tudo o que não me lembro e não consigo esquecer.
É a minha fonte, de onde bebo mesmo sem sede, para que seque. E espero.
É sempre mais fácil assim…

(Entretanto sorrio, repelido de mim)

Calculo, porém, que na hora da minha morte – se é que estou vivo, agora – ela ainda brilhe e me ilumine o rosto feliz, por saber ter guardado o que de mim próprio poderia estimar.

O tempo que não vivemos
As feridas que não tocámos
Os sentimentos que não pensámos
A história que não escrevemos
O vento que não sentimos
O destino que não sofremos
As palavras que não trocámos
Os pecado que não gozámos
As dores que maltratámos
Tudo o que sempre escolhemos

O momento em que não acreditei.

Quando me olhaste e me viste,
Também não quiseste crer
Na lágrima que não choraste.

Ao Ponto-de-Interrogação-

-no-Final-da-Primeira-Frase-

-de-um-Novo-Parágrafo.