01 fevereiro 2008

"Cresce. Não há colinho"
ou "Mea Culpa"

É o chamado renascer das cinzas, mas mais batido ainda.
Comum. Vulgar.
De uma falta de originalidade que remete para O argumento das novelas da noite.
Igual. Irremediavelmente.
E começa agora, com o flash-back habitual.

Sem saber muito bem porquê, a verdade que pensava conhecer parecia-lhe suficiente para toda a melancolia. Toda aquela atitude, toda aquela postura. Não menos verdadeira do que hoje. Não menos igual, também. Apenas o princípio fundador que faz mover.
Que faz estagnar.

E apesar disso, profundamente feliz na sua aparente apatia, porquanto, sem o saber, se debatia para se deixar ir.
A bola de neve da cena, repetida, em que as velhinhas comentam com o seu tricot que “este vai acabar mal”.
E no entanto mentira. Tudo mentira.

Como sempre, a personagem acaba por se safar, mesmo quando tudo parece estar a ir de mal a pior.

E tal como nas novelas, no fundo, todos os participantes da acção sempre perceberam o frio e negro da aparência como escape agudo e temerário da realidade raras vezes exteriorizada.
Todos, pelo menos todos os que importam na história, seja de que canal for, sempre viram. Porque sempre lá esteve.

A um simbólico par-de-estalos de distância.

Mas primeiro o pânico!, ninguém vai querer perder o episódio de amanhã, logo após a também verdadeira repetição do de hoje.
Quem o dará? Haverá alguém capaz de fazer friamente o necessário?

Para nosso mal, num desvio ao enredo previsível, nem sempre há alguém disposto a assumir a responsabilidade.
Mas, como tem vindo a ser enfatizado, esta e todas as da televisão são uma e uma só novela. Apenas mudam as personagens. Os cenários. Por vezes nem isso.

Posto isto, é numa sincera e impessoal conversa, escrita de 10 minutos, que se semeiam os ventos da mudança. A tempestade virá, de certo, um dia. Mas só depois do “ e viveram felizes para sempre. FIM.”

Respira-se fundo. Conta-se até dez.
E recomeça-se.

Até assimilar a verdade que nos foi retirada e atirada à cara, até sermos forçados – obrigado à personagem do “amigo” – a perceber.
Há coisas, há pessoas que valem a pena. Realmente a pena.
Mas essas são poucas.
Mas essas merecem a total atenção.
Mas essas são excepções.
Não pode, por isso, dar valor a coisas insignificantes, tanto que por vezes nem existem realmente. Apenas nos olhos de quem vê o mundo em tons de cinza. Ás vezes mais claros, às vezes mais escuros. Cinzentos.
Eles próprios.
Nós próprios.

Mas agora já não, pelo menos no que ainda não entra no domínio do argumentista.
Já que aí o papel nos transcende, dê-mos cor às linhas que nos restam.

Hoje, livre, não sabe para onde vai. Não sabe onde chegará no fim do episódio.
Sabe, como outra personagem, mais um dos caminhos por onde não pretende voltar.
Incerto também de que não o fará, conhece-se agora, no entanto, melhor do que possa alguma vez representar.

























Pintura de Christopher Wool

3 comentários:

  1. «Decidiu, por fim, acabar com as preocupações desnecessárias e excessivas. Decidiu perder as inseguranças infantis para com aqueles que não as merecem. Decidiu romper com o fatalismo crónico. Decidiu.
    E agradeceu.»

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  2. ta fantastico. mesmo.
    um dos melhores até agora, na minha opiniao (e gosto pessoal)
    é claro, sem no entanto ser explicito...profundo, com ideias, fundamentado, não é uma vaga divagaçao... não sei explicar melhor, sei que gostei. muito ***

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  3. és uma pessoa complexa. mas gosto de ti assim, tenho saudades tuas orlander :)

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