A luz de autocarro.
Despida do mundo.
Despida de tudo.
Tão cheia de nós.
Tão cheia dos nossos vazios que, nos tempos que correm, mais do que os nossos cheios, definem quem somos.
Vazios como os bancos dos autocarros da linha da madrugada.
Fluorescentes e frios como as luzes que lhes emprestam vida, por alguns turnos.
E vamos.
E vimos.
E voltamos.
«Hold your breath and count to ten. Fall apart.
Start again.»
A vida hoje é a vida de autocarro.
Transitória, atribulada, incerta e apressada.
Arrogante, incongruente, hipócrita e indiferente.
Sem cinto de segurança.
Velocidade inconstante. Lentidão furiosa.
A salvo, alguém?
Transeunte imponente, qual velho Adamastor dobrado.
Ninguém quer estar à frente.
Lembremos o passado.
Lembremos o cheiro a borracha queimada quando avançámos depressa e a vida nos fugiu demais.
O tédio, quando a mesma vida, estática e estéril, nos olha nos olhos brilhantes, e pergunta:
Não queres mesmo chegar ao volante, pois não?
muito bom... gosto da ideia por detrás, e daquela pequena espécie de incentivo no final. um dos meus preferidos! :)
ResponderEliminarparece que a saída do homem da menoridade (definição de Kant para o iluminismo - quiça essa luz d'autocarro)não passou de um erro de avaliação. ou fomos mesmo nós que retrocedemos?
ResponderEliminarcontinuamos, sim, a ser guiados por um qualquer mestre que não faz perguntas. nem 'nós'.
carrega no botão vermelho. é aqui que saímos. vamos? a luz do autocarro há-de sempre passar por nós. mas nós estamos cá fora. vamos?
[gostei tanto-tanto. mas é tão assustador..]