05 setembro 2006

(Não) Ser Ninguém


Olhar o céu
Como um
pensamento frustrado ilustrando o momento.
Lembrando relutante um futuro distante. Provavelmente instável. Possivelmente recriável.
Infinitamente se procura algo que nos mostre quem somos...
Infinitamente se recusa o encontrar desse estranho porquê que nos faz arder o coração…
E mesmo quando sentimos não haver mais inspiração, uma inesperável ligação revela o caminho para o passado… para o presente…
O futuro, esse, jaz inerte em nós mesmos, esperando o seu momento.
Pacientemente.
Como se flutuasse em parte incerta,
cambaleando por entre montanhas de ideias e pensamentos contidos.
E só aí percebe.
Não existe.
Porque o futuro é feito
hoje, ao libertarem-se os momentos impensados e revelarem-se os mais nefastos efeitos da genialidade.
Desiludido consigo mesmo, pensa em sair, evacuar-se no tempo, mas permanece, pois só a sua presença originará uma História, qualquer que ela seja.
Desta forma, e sem maldade inerente, mostra o
outro caminho, a outra opção…
(a eterna alternativa que eternamente nos colocará no palco das decisões marcantes, objectivas, cruéis)
A detenção de um ontem mal resolvido, arrastando-se pelos dias como uma serpente, mirando ao longe a próxima vítima do seu apetite.
Alertem-se os interlocutores de tão bizarra e intrínseca realidade.
O passado não desiste.
Quem não sabe quem foi, dificilmente descobrirá quem é.
E sempre será ninguém.
Olhemos o céu.


Desenho: "Balão-Olho" de O. Redon (1878)

3 comentários:

  1. É mesmo isso. «Quem não sabe quem foi, dificilmente descobrirá quem é. E sempre será ninguém.»

    E, cada vez mais, não adianta olhar o céu... se não for para o ver.

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  2. Caro Orlando,

    Julgo que dás aqui um grande exemplo do como deve ser e para que serve um blog.

    Muitas vezes deixámos passar por nós, palavras, frases e textos, que significam, actos vividos, sentimentos alcançados e memorias obtidas, perdendo-os no tempo e no espaço, não as dando a conhecer ao próximo e ao mundo.

    Para algumas pessoas o seu silêncio é a nossa salvação e as suas opiniões nada têm a acrescentar, noutros casos como o teu era um grande desperdício, por isso julgo que deves continuar a mostrar as tuas qualidades.

    Eu serei um sério adepto do teu blog.

    E se me permites finalizar sendo um pouco vulgar e utilizar um provérbio popular, filho de peixe sabe nadar.

    Parabéns pelos textos e imagens seleccionadas...temos blog.

    Abraço,

    Joel Azevedo

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  3. rapaz, este post está.. genial. não tenho palavras. não tenho mesmo.
    genial**

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