O Regresso da Chama

É o mundo nas minhas mãos.

É a constante incerteza de o conseguir segurar. De o conseguir manter a girar.
Aqui tudo será decisivo.
O mais pequeno passo em falso poderá deitar por terra tudo o que se planeou.
Mas isso não irá acontecer. Não iremos permitir.

Com um esforço brutal (e só nosso) iremos impedir que o mais escorregadio dos chãos nos faça tropeçar.

Não fará.

E se o fizer, permanecerá chão escorregadio quando nos vir levantar.
E continuar.
Continuar a caminhar para um lugar com o qual não nos cansamos de sonhar.

Um lugar que iremos alcançar.

Com sangue, suor e lágrimas, com sacrifícios e escolhas. Por vezes (des)acertadas, nem sempre (bem) planeadas.

Com as nossas escolhas.

Assim moldaremos o futuro. Não à nossa imagem. À imagem de uma sociedade perfeita e (in)alcançável.
Porque é isso que pensamos querer.

Não nos peçam certezas.

Afinal, é a incerteza que nos caracteriza.
A (todos) nós.
Porque o desejo e o sonho falarão, esperamos, sempre mais alto. E sempre nos levarão mais longe do que imaginávamos possível.
E só com o decorrer de tais acontecimentos poderemos deslindar o leve reflexo da imensidão da nossa (ir)realidade, que diariamente olhamos, pelo canto do olho.

É o tempo de olhar de frente.
É perguntarmo-nos o que iremos ver.
É não saber quando poderemos descansar.
É ter como única certeza a de que, hoje e sempre, vale a pena tentar.


Pintura: "O Regresso da Chama" de René Magritte (1943)