08 outubro 2006

Ser ou não ser:
Eis a Utopia (Fim)

Tudo se resume à inescapável realidade humana.
Simples e complexa. Inerente e inacessível.

Nossa.

Tão nossa quanto o medo, o preconceito, a falta de tacto, a estupidez absoluta, a inteligência inalcançável ou o bem supremo, que todos temos (sim, temos) a capacidade de alcançar.
Basta querer.

O poder da mente tem de facto poder para isso. E não só.
Da mesma forma que pode proporcionar-nos a melhor das vidas (mesmo que não vivamos numa mansão, não estejamos perto dos que amamos, não tenhamos alcançado o que sempre ambicionámos), pode também tornar uma vida fantástica com todas as condições desejáveis para se ser feliz, numa vida miserável. Não que a ambição seja negativa. Pelo contrário. A ambição é tanto mais positiva quanto a capacidade que temos de a medir.
O evitável é de facto a ambição desmedida. A ambição cega que nos faz desempenhar os papéis mais absurdos, durante a nossa “peça de teatro que não permite ensaios” (por Charlie Chaplin).
E na verdade, não será esse o objectivo que nos move?
Obter o maior aplauso possível, para validar o nosso esforço constante?
Transferir para as palmas o julgamento final, que nos avalia como tendo sido ou não, o que se esperava?
“Sim, têm razão. Estou a divagar.”
Ninguém tem este profundo objectivo.


O que se quer é claramente uma vidinha desinteressante.

Sem nada de bom, mas sem nada de mau. Viver na total indiferença.

E não é o que todos fazemos?
Gosto de pensar que não. Gosto de pensar que alguém, não eu, ninguém em particular, apenas esse “alguém” a quem delegamos as responsabilidades, tem uma atitude diferente. Uma atitude de quem prefere passar por momentos maus, para apreciar com precisão os momentos bons. Alguém a quem a vida ensinou que ela própria não sabe que função desempenha. Apenas sabe que cá está, para ser (des)aproveitada por todos quantos a conhecem. E que aprendem (ou não) a lidar com ela da melhor maneira possível. A única maneira que nos pode levar ao nosso lugar ao sol. A felicidade.

“Tenho neste momento a sensação de que talvez seja inútil pensar nisto. Tão inútil quanto acreditar que um dia D. Sebastião irá voltar para nos retirar deste mundo sem sentido. O mundo não tem sentido. O mundo simplesmente não deve ter sentido. O que faz dele o local perfeito para uma vida imperfeita. A nossa vida.”

3 comentários:

  1. Caro Orlando,

    Como este teu post não tem imagem e como associas sempre excelentes imagens aos teus textos, não podia deixar passar este texto sem te aconselhar uma imagem, por isso, e se me permites deixo-te uma sugestão o quadro Hammer and Sickle do Andy Warhol .

    Espero que gostes e claro é uma opinião de um leigo na matéria.

    Para quando um quadro teu no Blog??

    Abraço,

    Joel Azevedo

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  2. Joel,

    Agradeço o teu comentário e a tua sugestão mas, como sabes, a imagem que propões possui um simbolismo muito próprio e muito forte, que não se coaduna da melhor forma com o espírito que tento dar a este blog.
    Não te sintas ofendido, mas não vou aceitar a ideia.

    Quanto a trabalhos meus… ainda não há propriamente quadros, mas o desenho do texto “Vida Fantasma” é meu… :)

    Abraço.

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  3. Meu caro Orlando Castro (Jr.) [este é, claramente, um acto provocatório e pouco utópico],

    Ao longo destes 3 textos focou 3 realidades que tornam a actual sociedade humana claramente pouco utópica, mas muito complexa e tolamente falsa:
    “preconceito=ignorância (Utopia1); medo do desconhecido (Utopia2); estupidez absoluta (Utopia3-fim)”.
    Por isso pergunto se realmente vivemos numa permanente Utopia ou queremos, outro sim, que o nosso cinzentismo seja estupidamente Utópico para assim salvaguardarmos os nossos medos, os nossos preconceitos, ou seja, e como muito bem diz, o reforço da nossa “realidade humana”.
    Creio que poderia continuar a explorar este tema porque ele pode ser um interessante acto de luta contra a monotonia preconceituosa que, mesquinhamente, a moderna sociedade actual parece querer tornar como seu imutável privilégio.
    Por isso não me surpreendem as palavras do kota (como eu) Alcides Sakala no primeiro tomo: “Mas sabes porque hoje luto?” Tal como ele, sei que o sabe, porque os exemplos em casa são bem reconhecidos.

    Abraços

    Eugénio Costa Almeida

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